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Quem vai cuidar melhor da prole: a fêmea do Aedes aegypti ou nós?


Proteger-se e proteger a sua prole é uma das condições para uma espécie sobreviver. Essa ideia envolve as várias espécies animais: aves, pássaros, mamíferos, humanos e mesmo os insetos. “O comportamento da fêmea do Aedes aegypti é proteger a prole; por isso ela procura colocar seus ovos em locais em que eles não terão risco de serem atacados por predadores, como passarinhos que se alimentam de larvas. Ela coloca os ovos em locais mais escuros e difíceis de serem encontrados, como vemos que acontece muito em água parada em pneus, nas borracharias. A estrutura interna do pneu é o local ideal para a fêmea deixar os ovos, porque dificilmente as pessoas veem o que está ali”, explica Olívia Gavioli, técnologa em Saneamento e mestre em Entomologia em Saúde Pública – e complementa: “Com o passar do tempo ela vai se adaptando. Um detalhe interessante no caso da fêmea do Aedes aegypti é que ela não coloca os ovos todos em um ponto só; ela vai espalhando para aumentar a garantia de sobrevivência. A gente está um passa atrás deles”.


A dengue é transmitida pela picada do Aedes aegypti. A cada nova temporada de chuvas, com o aumento dos casos de dengue, vemos que os mosquitos Aedes aegypti continuam cuidando da própria espécie e proliferando – e que está faltando a nós fazermos a nossa parte para nos protegermos e proteger a nossa prole.


“A fêmea do Aedes aegypti vive só 30 dias. É muito pouco tempo de vida dessa mosquita e nesse período ela tem que picar alguém contaminado e picar uma pessoa suscetível para transmitir dengue. E mais do que isso: essa fêmea só consegue voar a 300 metros do local onde ela nasceu”, destaca a médica pediatra Ana Escobar, explicando a importância de as pessoas cuidarem da casa, do prédio, da vizinhança, para não terem criadouro de mosquito por perto. “Tem que falar com os vizinhos, na reunião de condomínio, evitar ter água empoçada. Impedir a proliferação do mosquito. Essas ações são importantes para evitar uma doença que é fatal”. Considerando essa característica da fêmea de se limitar a 300 metros do nascedouro, cada um que mantiver sua comunidade sem criadouros estará criando uma vizinhança segura, sem mosquitos que transmitem a doença.



A médica avisa que é essencial tomar cuidado especialmente nessa época de chuva, do começo do ano até o outono, quando há aumento de casos de dengue no Brasil. Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde publicado em janeiro de 2020, em 2019 “foram notificados 1.544.987 casos prováveis (taxa de incidência de 735,2 casos por 100 mil habitantes) de dengue no país.


Houve um aumento no número de casos em 2019 de mais de 500% em relação a 2018, quando foram registrados 247.393 casos. “Isso a gente sabendo que é um mosquito com essas características, como se multiplica e para o qual tem repelente. No entanto, as pessoas continuam com um descuido incrível”, lamenta Ana Escobar.


O que precisamos fazer

Olívia Gavioli fez seu metrado em Entomologia em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (2019) com o tema ‘Aedes aegypti e Aedes albopictus e sua relação com materiais descartados em jardins de unidades do Quadrilátero da Saúde, na cidade de São Paulo’. No trabalho ela estudou o descarte de resíduo, nas unidades da faculdade, pelas pessoas em trânsito – ou seja, materiais que as pessoas descartam em locais públicos, como copos e garrafas. “Eu pontuei na pesquisa lugares que normalmente ficam com acúmulo de material e nesses locais eu encontrava água parada com larva de mosquito”, esclarece. “Era um volume baixo de água acumulada para a grande quantidade de larva que encontrei. É preocupante se considerarmos a quantidade de pessoas que apenas um mosquito consegue infectar”.


A estimativa é que um mosquito possa contaminar até 300 pessoas durante sua vida.

Em uma estrutura de concreto que estava há bastante tempo em uma área de jardim, Olivia encontrou larvas do Aedes aegypti e Aedes albopictus. “Temos problemas porque falta atenção à questão do descarte irregular de resíduo e à coleta regular, principalmente em áreas em que há o que chamamos de ‘ponto viciado’, que têm muito descarte que fica ali por um período que é suficiente para que tenha proliferação de mosquito e de outros animais como baratas, pombos e ratos, porque são locais que favorecem sua permanência, onde encontram abrigo e alimento”. Olivia comenta que se acumulam tanto resíduos grandes quanto menores, que quase não se vê – em terrenos baldios, por exemplo, são encobertos pela vegetação que cresce no local.


“As pessoas não podem achar que apenas os órgãos do governo devem realizar ações. Precisamos ter o que chamamos de controle mecânico: pegar aquele prato de planta e não apenas descartar a água, mas limpar. Observar locais e objetos que podem acumular água e fechar ou descartá-los”, recomenda a pesquisadora. “Quando um material fica muito tempo em um local, acaba esquecido. Se a pessoa não vai semanalmente verificar a condição em que está, esquece. Se não tem o hábito de todo ano fazer uma limpeza geral das calhas antes de o verão chegar, por exemplo, isso acaba passando despercebido. É uma questão de hábitos”.


Como se proteger – e proteger as crianças

A pediatra Ana Escobar dá importantes dicas para que as pessoas se cuidem e protejam as crianças contra a picada do mosquito. Os bebês até três meses necessitam de atenção especial, já que não podem usar repelentes. Ana Escobar diz que é preciso colocar mosquiteiro no berço. “Pode usar repelente de tomada no quarto da criança, desde que o berço fique a pelo menos dois metros de distância”.


Para as crianças acima de três meses, ela lembra que a Anvisa liberou recentemente o uso de repelente de icaridina em concentração máxima de 10%, mas alerta: “não é porque tem repelente que vai deixar de usar mosquiteiro, que é superimportante mesmo para os bebês maiores, porque usar repelente frequentemente não é adequado. Até porque, na cama, como o bebê se vira para um lado e outro, o repelente pode sair no lençol. O repelente é útil para quando vai passear na rua, no parque. É preciso prestar atenção nas orientações do fabricante sobre como usar o repelente e verificar se é adequado para uso em crianças”.


Tomar todas as medidas para evitar a dengue é fundamental, mas é igualmente importante saber o que fazer em caso de suspeita de ter contraído a doença. Por isso, a médica ressalta que a qualquer indício, o ideal é procurar imediatamente um médico ou um pronto-socorro. “Os pais devem se atentar a qualquer febre alta que a criança tenha ou dor no corpo, se ela ficar inapetente, indisposta, sonolenta, com dor de cabeça e às vezes até com um pouquinho de sintoma de gripe – pode até ter um pouco de tosse, mas não muita, porque essa é mais uma característica da gripe”.


Ficar atento a sintomas para procurar um pronto-socorro é fundamental não apenas para crianças, mas também adultos, assim o paciente é logo medicado e trata dos sintomas, como fez Adilson Rodrigues na duas vezes em que teve dengue. Como logo foi ao hospital, a fase aguda dos sintomas durou cerca de três dias – mas ele avisa que foi bem intenso. “Você fica acabado, derrotado; é uma coisa horrível. Uma dor no corpo absurda e também nos olhos, além de moleza, indisposição e manchas pelo corpo. Parece uma gripe muito forte, que te deixa sem vontade de fazer nada”, comenta Rodrigues. Ele conta que na segunda vez a dor nos olhos foi terrível. “Era uma dor que parecia no globo ocular e até para piscar doía”. Para melhorar logo, além dos medicamentos, revela que foi essencial fazer bastante repouso.


Vale também a recomendação de não utilizar medicamentos que tenham ácido acetilsalicílico, porque eles podem diminuir o número de plaquetas no sangue, que já costuma cair quando a pessoa tem dengue, comprometendo a vedação dos vasos sanguíneos, podendo provocar a chamada dengue hemorrágica, que agrava a doença e pode levar à morte.


“Hoje existem testes chamados ‘teste rápido de dengue’, pelo qual é possível ver se está positivo ou não para a doença, possibilitando ficar atento ao problema maior que é a dengue hemorrágica”, avisa Ana Escobrar. “Devemos lembrar que quem já teve dengue uma vez tem maior chance de ter dengue hemorrágica. O problema é que muitas vezes a pessoa nem sabe que teve dengue, porque ela possui várias gradações e às vezes é assintomática. A pessoa sente uma leve dor no corpo, febre baixa e nem percebe que está doente, a vida segue e fica surpresa quando descobre que já teve dengue, o que aumenta a chance, em uma segunda infestação, de ter a hemorrágica, que é potencialmente fatal”.


Nossos agradecimentos a Dra. Ana Escobar - www.draanaescobar.com.br - , a Srta Olívia Gavioli e ao Sr. Adilson Rodrigues.


Este conteúdo é exclusivo do Instituto Contemplo, por favor, caso compartilhe informe a fonte.

Colaboração: Lapidando Palavras

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