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Medicamento, modo de usar: bula e informação podem ser aliadas no tratamento

Equipe Instituto Contemplo


Quando você abre a caixa de remédio ela está ali – e muitas vezes é ali mesmo que fica, sem ser tocada. Há quem nem pense nela, enquanto outros lerão tudo de ponta a ponta. Tem os que conseguem guardar as informações importantes sem se deixar abater e aqueles que entram em desespero ao ver as possíveis reações adversas. Mas, afinal, qual a melhor forma de usar aquele papel que pode ser esclarecedor ou assustador, a bula?


“As bulas dos medicamentos são importantes – por uma questão legal, têm que estar presentes em todos os medicamentos, inclusive nos que são isentos de prescrição e vendidos de forma fracionada fora do balcão da farmácia; todos devem ter instrução de uso e bula”, alerta o farmacêutico Marcos Machado Ferreira, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP). Ele destaca ainda que a bula é importante para o paciente, pois traz informações de forma clara e objetiva para esclarecer algumas dúvidas que surjam. “É importante que o paciente leia para entender o medicamento que está usando, que efeito terá para tratar sua doença e saber que também pode ter uma reação negativa (efeito colateral), principalmente se estiver tomando outros medicamentos”.


Ferreira refere-se às interações medicamentosas, que podem ocorrer quando o paciente toma mais de um medicamento. A parte das interações com outros medicamentos é, aliás, um dos aspectos que o presidente do CRF-SP recomenda dar mais atenção na hora de ler a bula, especialmente porque nem sempre é possível durante a consulta o médico fazer a anamnese (entrevista feita pelo profissional de saúde com o paciente para levantar todas as informações necessárias para o diagnóstico). O farmacêutico cita ainda casos em que a pessoa passa por consulta em mais de um médico, de diferentes especialidades, e nem sempre avisa os medicamentos que o outro profissional receitou ou que já está tomando. “Isso causa certa preocupação, porque temos pacientes que tomam cinco, seis e às vezes até mais medicamentos que podem ter interações entre eles. Por isso é interessante olhar a bula e verificar se não há interação com outro medicamento; na dúvida, a pessoa deve conversar com um farmacêutico e, se preciso, voltar ao médico”.

O farmacêutico é o profissional especializado para analisar as interações entre os medicamentos – nas equipes multidisciplinares de saúde, é ele quem dá suporte à equipe médica sobre esse aspecto para o tratamento. Essa observação é importante porque as interações podem atrapalhar a ação dos medicamentos, suspendendo ou até aumentando seu efeito.

“A bula é uma ferramenta rica em informações que deveria ser mais explorada; os pacientes deveriam ser estimulados a ler e tirar suas dúvidas com seu médico ou farmacêutico. Paciente informado sobre o seu tratamento é muito importante”, alerta a farmacêutica Crucita Vilela M. Machado, que reúne mais de 20 anos de experiência com pacientes em hospital e no terceiro setor.


Efeito colateral é alerta, não certeza de acontecer

Crucita comenta que vê muitos pacientes que pegam a bula e só prestam atenção no lado que parece ser negativo, dos efeitos que o medicamento pode causar. “Na verdade, não é negativo, mas um alerta avisando o que pode acontecer. Muitos acham que porque está escrito na bula vai acontecer, mas não é assim. Não precisa ficar preocupado; somente prestar atenção e, se sentir alguma reação, procurar seu médico ou um hospital”. Ela diz que muitos pacientes deixam de fazer o tratamento porque leram algo na bula que os preocupou. “Isso é muito comum, a pessoa falar que não vai tomar porque viu na bula que pode acontecer esse ou aquele efeito e não vai arriscar. Isso não pode ocorrer”.

Nessas horas, ressalta a farmacêutica, entra a importância de confiar em quem prescreveu a medicação. “A bula dá conhecimento para conversar com o médico e questionar dúvidas”, avalia Crucita.

Para Ferreira, é importante o paciente entender que as bulas trazem informações e que os medicamentos têm riscos, não são isentos de provocar efeitos; são produtos químicos usados para tratar doenças, mas podem trazer outros problemas. Por isso é preciso ter em mente que quando o médico prescreve determinado medicamento já está prevendo tanto a ação benéfica para a doença quanto algum possível risco ou interação. “Alguns pacientes acabam focando muito nas ações que o medicamento pode trazer, nas interações medicamentosas, advertências e riscos, mas não se deve fixar somente nessa parte. Na dúvida, se não conseguir falar com o médico de forma rápida, precisa conversar com o farmacêutico e esclarecer”.

Crucita complementa: “se o médico ou o farmacêutico indicar para você um medicamento, a chance de ele errar é muito pequena, pois ele foi preparado para fazer isso. Se o médico falou para você tomar determinado remédio é porque sabe a necessidade desse medicamento para você melhorar. Você deve acreditar e confiar no seu médico”.


Seguir prescrição e duração do tratamento é essencial

O maior risco, alertam os profissionais, é não seguir o tratamento como o médico indicou, não fazer ou interromper o tratamento com receio dos efeitos colaterais, fazer uma interpretação errada, ter uma dúvida e não esclarecer. “Os medicamentos devem ser usados quando necessário – e têm que ser usados na dose correta, na posologia que foi prescrita e pelo tempo determinado.Às vezes o paciente fala que leu na bula e ficou preocupado, estava com medo e então, em vez de tomar sete dias, tomou três ou quatro, melhorou e parou. Não pode; deve tomar o medicamento pelo tempo correto prescrito pelo médico”, afirma Ferreira.

Outra ação comum, alerta o presidente do CRF-SP, é o paciente ficar preocupado com os efeitos adversos que o medicamento pode causar e usar uma dosagem menor do que a recomendada pelo profissional de saúde. “Essa atitude é bastante corriqueira. Quando o paciente muda a dosagem, usando maior ou menor do que o médico prescreve, o medicamento não está fazendo efeito e pode prejudicar agravando o quadro, piorando a doença e seus sintomas”.


Informação tem que ser confiável

Ferreira lembra que os pacientes – especialmente no Brasil, por vezes devido à dificuldade de acesso rápido aos médicos – procuram muitas informações sobre doenças em sites de busca, como o Google. Ele considera que essas pesquisas são importantes, mas alerta: “O paciente hoje tem condições de ter mais informações do que tinha no passado e isso não deveria ser ruim; deveria ser uma forma a mais de empoderar o paciente. Mas o risco é justamente pegar uma informação, duvidar do tratamento ou medicamento que foi prescrito e o tratamento não se concretizar – como a diminuição da dose porque às vezes leu que ela parece excessiva, porque alguém comentou que tomou o medicamento tanto tempo e não fez bem. O paciente precisa entender que o médico passou a dose que é adequada para o tratamento dele e pelo tempo necessário”, avisa. “O risco – e que tem acontecido muito - é que as pessoas comecem a tomar decisões por conta própria sem consultar nem o médico, nem o farmacêutico ou outro profissional da saúde e o que pode parecer tratamento exagerado é o correto para ele”.

Se há incerteza de o medicamento estar trazendo algum problema ou o paciente não se sente bem, a indicação é falar com o médico para avaliar se precisa fazer alteração no tratamento. “O que não é correto é simplesmente deixar de utilizar, mudar as doses ou usar outro medicamento ou até um tratamento alternativo no lugar”.

Na dúvida, o paciente pode levar a bula à farmácia e esclarecer tudo que precisa com o farmacêutico. “O farmacêutico é o profissional de saúde mais acessível da população. Não precisa marcar hora nem ter cartão de convênio. Basta ir à farmácia e pedir para conversar com o farmacêutico. Essa é a função do profissional”.


O que é importante

✓ Ler a bula do medicamento ajuda a obter informações para tirar dúvidas com o médico ou farmacêutico ou outro profissional da saúde.

✓ Respeitar os horários indicados pelo médico para tomar o medicamento, pois a prescrição é feita considerando o ciclo do medicamento no organismo.

✓ Tomar o medicamento na dose indicada pelo médico e pelo tempo que foi prescrito. Não interromper antes de finalizar o tratamento ou sem conversar com seu médico.

✓ Evitar começar a tomar um medicamento à noite – a menos que seja uma emergência, que geralmente é tratada no hospital. Esse alerta é ainda mais importante para medicamentos que o paciente nunca tomou, porque se tiver uma reação e estiver dormindo, pode se tornar um problema mais sério. Sempre que possível, começar os tratamentos durante o dia.

✓ Prestar atenção na maneira de tomar o medicamento e sempre buscar esclarecimentos com o médico ou farmacêutico: precisa tomar com água, com leite? Pode tomar com refrigerante? Se estiver tomando determinado medicamento pode consumir bebida alcoólica? Pergunte, há casos de medicamentos que perdem seu efeito positivo quando ingeridos com suco de laranja ou com determinados chás.

✓ Ler sobre as interações e esclarecer todas as dúvidas com os profissionais de saúde – avisar todos os medicamentos que está tomando para que possa ser feita uma avaliação de possíveis interações entre eles. Se for o caso, o médico ou farmacêutico fará ajustes na prescrição. Mantenha uma lista, simples, com o nome dos medicamentos que usa ou já usou.

✓ E sempre respeitar a maneira determinada para tomar o medicamento.


O que não pode acontecer

✓ Deixar de fazer o tratamento porque ficou preocupado com os possíveis efeitos colaterais. É importante lembrar sempre que mesmo que possa trazer alguns efeitos, o medicamento servirá para seu tratamento – o médico considera o fato de que podem surgir efeitos e ele cuidará disso caso aconteça.

✓ Parar de tomar o medicamento antes do prazo determinado pelo médico – o paciente não deve parar de tomar o medicamento antes do tempo que o médico prescreveu porque se sente melhor ou o sintoma parou. O prazo definido tem um objetivo de tratamento completo e não deve ser interrompido.

✓ Mudar a dosagem recomendada, tomando mais ou menos – o medicamento deve ser tomado exatamente como prescrito para fazer o efeito esperado e não prejudicar a saúde do paciente.

✓ Alterar qualquer detalhe do tratamento considerando informação de outros pacientes, experiência de outra pessoa, seja conhecida ou obtida na internet, sem conversar com o profissional de saúde.

✓ Mudar qualquer detalhe do tratamento por conta própria – O paciente não deve alterar seu tratamento sem conversar com um profissional, mesmo que haja dúvidas.

✓ Buscar informações em fontes não confiáveis: para saber com precisão detalhes do seu tratamento, o indicado é ler a bula, tirar dúvidas com o farmacêutico e com o médico.

✓ Ceder medicamentos que foram prescritos para você a outra pessoa, existem doenças com sintomas parecidos, mas a avaliação deve ser feita por um profissional da saúde. Cada pessoa reage de forma diferente a doenças e a tratamentos.

✓ Dar seu medicamentos a animais domésticos - isso pode matá-los.

✓ Deixar medicamentos ao alcance de crianças - esse alerta é sempre válido. Medicamentos por vezes são coloridos para facilitar a identificação e crianças podem ingerir acreditando ser balas ou doces.


Usar corretamente um medicamento salva vidas, a adesão ao tratamento é importante, não só para você e sua saúde, mas também para a sociedade.


Nossos agradecimentos a Sra Crucita Vilela Machado e ao Sr. Marcos Machado Ferreira, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP).

 

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Colaboração: Lapidando Palavras


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